Relatos de parto

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Relato de parto normal gemelar - Por Patricia Bilsland

Patrícia teve seus casalsinho de gêmeos de parto normal com pouco mais de 32 semanas. Eles nasceram com com 1,6 e 2 kg. Ficaram na UTI por 30 e 20 dias, só pra ganhar peso. 

Leia abaixo o relato escrito pela Patrícia..

Antes de começar, preciso contar um pouquinho sobre mim. Sou veterinária de formação e de coração, apesar de não trabalhar diretamente na área. Fui criada em sítio e reprodução, pra mim, é a coisa mais natural do mundo. Fui casada por 18 anos, e de comum acordo, meu marido e eu não queríamos ter filhos. Chegou uma época, porém, em que o relógio biológico falou mais alto e decidi que queria ser mãe. Meu marido não queria ser pai, e como nosso relacionamento sempre foi baseado em honestidade e respeito, nos separamos (a família dele queria que eu tivesse “enganado” meu marido – ah, depois ele se apega às crianças...). Tentei primeiro o caminho da adoção, mas meu santo não bateu com o da psicóloga do fórum, e depois de um monte de enrolação ela finalmente disse que não me aprovaria. OK, decepção número 1. Resolvi tentar inseminação artificial, com sêmen de doador (como veterinária isso nunca foi um bicho-de-sete-cabeças, muito pelo contrário). Fui pesquisando até achar uma clínica que pudesse me atender. Aí veio a decepção número 2. Eu não teria muitas chances de engravidar só com inseminação, já que uma das minhas trompas estava obstruída. Teria que ser FIV. 

Fiz todo o processo sozinha – sala se espera, consultas, ultrassons, farmácia especial pra comprar os hormônios, as trocentas tentativas falhadas... Nesse ponto já tinha perdido a conta das decepções. Aí um dia deu certo. O médico tinha falado que pela minha idade eu poderia colocar até 4 embriões, mas que ele recomendava 3. Eu disse que queria 2. Ele falou que isso diminuiria minhas chances de engravidar, mas falei que quem entrasse, seria bem-vindo, e eu teria condições de cuidar de 2, não de 3 (eu sou mãe solteira, né!). Minha irmã foi comigo fazer o US, e lá estavam os saquinhos gestacionais. Senti medo e muita alegria! Aí comecei a buscar um obstetra. Fiquei chocada nas consultas. Entre outras coisas, ouvi que qdo os bebês estivessem na 36ª semana, “poderíamos tirá-los” – e me mostrou uma curva de crescimento. Caramba, os fetos diminuem a taxa de ganho de peso, mas os órgãos ainda estão amadurecendo! Eu achei que pela minha idade e por ter uma gestação múltipla, eu teria que ter uma cesárea, mas NUNCA achei que quem iria determinar o momento seria o médico! Na minha cabeça, quem diz que está na hora de nascer é o bebê! Rodei até achar uma obstetra que pensasse como eu. 

A gravidez seguiu tranquila. Eu continuei trabalhando, fazendo pilates, nadando (caminhar estava mais complicado). Até que no sexto mês, na saída do consultório da médica, sofri um sequestro relâmpago (5 da tarde e em um bairro “bom”). PESADELO. Achei que ia perder as crianças. Não só pelas ameaças dos bandidos, pelo medo de eles baterem o meu carro, mas pq daí pra frente, fiquei tendo contrações. Minha pressão começou a subir. Fui diminuindo o ritmo de trabalho e exercício, mas na 30ª semana minha pressão subiu bastante e fiquei ultra inchada. Fui internada com síndrome HELP. Fiquei tranquila e fazendo repouso no hospital. Eu estava quase tendo alta quando comecei a sentir uma dor nas costas. Como a Sabrina estava com a cabeça apertando a minha bexiga e estava complicado fazer xixi, achei que estava ficando com uma cistite/infecção renal. Ha-ha-ha. Tomei a injeção de corticoide já em trabalho de parto (só que não sabíamos – eu só tinha falado para a médica que estava com um pouquinho de dor nas costas). Passei a noite com dor e qdo senti um “xixi” que eu não conseguia controlar direito, tive certeza de que era cistite. A enfermeira perguntou se eu estava bem e falei que estava com um pouco de dor. Ela perguntou se eu queria um analgésico e eu disse que não, com medo de mascarar uma possível febre da minha “infecção”. Fui segurando assim, tentando dormir até que lá pelas 5 da manhã, estava com um pouco de sangue e com vontade de um número 2. Opa, alerta vermelho! Chamei a enfermeira. Ela ligou para a médica e recebeu a instrução de fazer um toque. Lá estava a tonta com 6 dedos de dilatação, hahahaha. Fui levada para a sala de parto. A médica veio e disse que eu não poderia ir para a sala de parto humanizado pq talvez precisasse ter uma cesárea. OK. Foi tudo muito numa boa, do jeito que eu acho que tem que ser – as crianças estavam determinando o parto. Meu ex-marido e minha irmã vieram pra acompanhar o parto. Eu não quis tomar nada pra não arriscar as crianças. Eles já seriam tão pequenininhos... 

A Sabrina nasceu às 10:54 da manhã. A placenta do Max descolou e começaram os preparativos para a cesárea, mas o Max veio numa enxurrada, molhando todo mundo que estava em volta, 10 minutos depois. Eles nasceram de pouco mais de 32 semanas, com 1,6 e 2 kg. Ficaram na UTI por 30 e 20 dias, só pra ganhar peso. Não precisaram de oxigênio, não precisaram de transfusão de sangue e eu rapidinho comecei a dar leite. O que eu achei do parto normal: Pra mim foi normal. Não fiquei naquelas de que foi lindo, que isso que aquilo. Pode ser frieza da minha parte, mas não me senti superpoderosa e blá-blá. Achei que foi o melhor para as crianças e para mim. Eles tiveram a chance de amadurecer os pulmões com o trabalho de parto e nascer mais fortes. Eu estava andando no mesmo dia, e se não fosse o despreparo do hospital, estaria melhor ainda. Dói? Claro que dói. Dói pra toda fêmea, ué. Parto é assim. Pronto. Meu corpo respondeu da forma que foi feito pra responder e eu dei um MONTE de leite. As outras mães no lactário tomando remédio, chá, etc para o leite descer e o meu vindo de monte só com bastante água e uma alimentação boa. Minha dupla mamou no peito exclusivamente até os 6 meses, e depois, misturando fórmula, comida, etc até os 3 anos – mamadeira não fez eles largarem o peito, nem chupeta (eles usaram por 1 mês e depois não quiseram mais). Doei leite (um monte) até eles estarem com uns 7 meses (daí comecei a desmamar da bomba pq ia mudar para a Inglaterra e não queria ter que carregar toda a tralha). Se recomendo parto normal? Com certeza. É o melhor para a mãe e para a criança – só que sem heroísmos, né!

** Texto escrito por Patricia Bilsland