A Mãe de Gêmeos de UTI Neo

13.novembro.2015

A notícia está dada da tão esperada gravidez! Além da alegria e surpresa de serem múltiplos, expectativa do nascimento, do receio de não dar conta dos cuidados pós-parto e claro, preocupações com a gravidez.

Embora algumas gestações gemelares consigam chegar até 40 semanas, a gravidez múltipla é considerada de risco por ter 24 vezes mais chance de parto prematuro comparado a uma gestação singular. Bebês prematuros são classificados de acordo com seu tempo de gestação. Até a 28ª-30ª semana, são considerados extremos ou muito prematuros; até a 34ª semana, moderadamente prematuros, e, entre 34 e 36/37 semanas, prematuros tardios. (Einstein, 2014)

Podemos ver que é um percentual grande de nascimentos de “apressadinhos” em gêmeos, o que resulta a uma grande chance do bebê precisar se hospedar na UTI. Por isso esse tema é muito abordado na gravidez múltipla, até porque caso ocorra, você já esteja “preparada emocionalmente”. É lógico que nunca dá para estar realmente “preparada emocionalmente” para algo que não vivenciou ainda, mas abordar o tema e já pensar no assunto, ou melhor, desmistificar o assunto, já ajuda bastante.

A UTI geralmente é remetida à imagem de um lugar terminal, de casos “extremos”. Mas o fato de irem para esse setor,  não significa sempre que o estado do bebê é grave. Geralmente no caso de gêmeos prematuros, a ida à UTI tem como propósito de aumento de peso.

Ao escolher o hospital do parto, considere que essa chance pode ocorrer, e quando isso acontece, a mãe terá alta e os bebês, não. Portanto localização próxima de sua casa será uma grande facilidade para sua locomoção no dia-a-dia. Além do mais, muitas vezes um bebê tem alta e o outro não, e você vai ter que fazer um verdadeiro “malabarismo” para conciliar com seu pequeno em casa e dar atenção ao bebê na UTI. Procure também pesquisar sobre a infra-estrutura da Unidade Neonatal, a capacidade máxima e inclusive, se desejar, conhecer antes.

Os profissionais da UTI são extremamente atenciosos as necessidades do seu bebê e especializados nesse assunto. Se for o caso de seus bebês serem internados, aproveite para perguntar tudo, aprender a dar banho, trocar fralda e o que mais for necessário. Tente se envolver nos cuidados diários, pois embora eles sejam profissionais, o seus bebês sabem que você que é a mãe, e com certeza lhe confortará de estarem em sua presença. Não tenha medo, quando autorizado o manuseio, toque no seu bebê, lhe acaricie, cante e converse com ele. Eles ouviram sua voz quando estava na barriga e vai reconhecer agora. Dê notícias de seu irmãozinho. Não se assuste se ele estiver acompanhado com um monte de equipamentos. Se os médicos optaram para eles estarem lá é porque é o lugar mais seguro para seus bebês no momento e terão tudo o que precisam.

Tem muitas maternidades que aderem ao procedimento “Mamãe Canguru”. É um método  trazido pela Colômbia (Bogotá) que favorece o vínculo, estimula a amamentacao e fortalece a imunidade do bebê.

Quando liberado deixar objetos, deixe algum objeto que tenha seu cheiro e se possível, o cheiro do seu irmãozinho. Tem mães que deixam um lenço, ou objeto carinhoso.

Incentive a interação do pai nesse momento. Eles podem dar uma mamadeira, fazer o procedimento canguru ou dar banho, por exemplo. Quando os bebês forem para a casa, ele também precisará se sentir seguro para cuidar dos bebês e te auxiliar.

A maioria das maternidades tem grupos de apoio, encontros com outras mães passando por situações similares. É uma boa forma de se sentir compreendida e acolhida.

A UTI NEO tem muitos desafios. Seguir os horários, tirar leite em uma máquina, presenciar às vezes um acontecimento triste com outra família, acompanhar sistematicamente a evolução médica de seu bebê e conciliar tudo isso com sua vida, que nem sempre dá para “congelar”, principalmente se você tem outro(s) filho(s) para cuidar em casa.

Se permita receber ajuda. Muitas mães sentem nesse momento um turbilhão de emoções. Podem se sentir culpadas do nascimento prematuro, medo de cuidar de seus filhos, do que os médicos vão falar, e ao mesmo tempo, uma sensação de que tem que dar conta de tudo, ser a “Super Mulher”. É muito comum as mães se sentirem muito fortes nessa etapa, porque realmente “tem que dar conta” da situação. O problema é que uma vez estando com os bebês em casa, desabam e entram em uma depressão intensa. Se permita chorar, sentir tristeza ou alegria, tirar um momento para si.

Pesquisas apontam que 55% de Mães de UTI sofrem de depressão pós-parto (Dantas, Araújo, Paulino, Maia, 2012). Uma maneira de diminuir esse índice certamente seria as mães terem auxilio da família, rede social e profissionais especializados e principalmente a mãe, claro, estar receptiva à esses apoios.

Acredite sempre, tenha fé, independentemente de sua religião. Na UTI, cada dia é um dia. Não só a Unidade é intensiva, como TUDO é vivido intensamente. Apreensões e comemorações. Resiliência e Vulnerabilidade. Cada um na sua dosagem, e cada um sua própria história para contar e certeza de um futuro a caminhar.

Liana Kupferman

Psicóloga Clínica especializada no tema gemelaridade que pesquisa há mais de 10 anos, além de ser autora do estudo: “O Relacionamento dos Irmãos Gêmeos ao Longo do Ciclo Vital”. – PUC SP.